segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fazendo a coisa errada!

A VEJA desta semana traz uma entrevista com João Batista Araújo, especialista em educação. Ele tem a mesma perspectiva deste humilde blogueiro sobre o uso de tablets na escolas públicas. Já falamos aqui sobre a esperteza dos governos em alardear o uso do equipamento, como se a qualidade subisse com eles. Não é verdade. Leiamos um trecho (atenção para a última frase):
Por que é tão difícil levar a qualidade das escolas-modelo para toda a rede de ensino?Porque no Brasil o que importa é acessório. O legal é colocar xadrez na escola, é ensinar teatro. O brasileiro vai à Finlândia e acha que o sucesso da educação daquele país se deve ao fato de que as paredes das escolas são pintadas de rosa. Na volta ao Brasil, ele quer pintar todas as escolas daquela cor. Depois, ele vai à Franca, onde vê um livro que julga importante e decide introduzi-lo nas escolas daqui… Em vez de olharmos o que os sistemas de ensino daqueles países têm em comum, olhamos exatamente para o que há de diferente neles, como se isso fosse a bala de prata da educação. Por isso gestão é tão importante: é preciso focar o DNA da escola e deixar de lado o que é periférico. O problema é que as escolas e as secretarias de Educação estão povoadas de pedagogos, e não de gestores. Não conheço uma Secretaria de Educação no Brasil que tenha um especialista em demografia, que saiba quantas crianças vão nascer nos próximos anos e, portanto, quantas escolas precisam ser abertas ou fechadas.
Há alguns meses, o MEC anunciou a aquisição de milhares de tablets para professores. O senhor vê isso com bons olhos?É mais confete. O bom professor vai se beneficiar; o mau, não. E nem o benefício ao bom professor justifica o custo. Quando a tecnologia está atrelada ao professor, ele, o ser humano, vai ser sempre o fator limitante. Nenhum país conseguiu melhorar a educação a partir do uso da tecnologia. Não estou dizendo que a tecnologia seja ruim. Ela tem potencial, desde que seja usada no contexto apropriado. Não adianta colocar ingredientes certos na receita errada.
Aqui em Pernambuco a coisa chegou ao ridículo. O Governo Estadual fez publicar em outdoors a doação de 176.000 tablets aos alunos da rede pública (ontem, vi um deles em Olinda), mas não moveu uma palha para treinar os professores para produzir conteúdo para os mesmos. É a mesma história dos notebooks. Doaram o equipamento aos professores, mas não havia datashow, nem impressora, e PIOR, não havia treinamento para produzir as apresentações! Outra coisa importante: como o conteúdo chegará aos tablets se não há rede wifi de qualidade nas escolas? Isso quando ela existe! A regra é não haver! 3G? Nem pensar com a condição financeira das famílias pobres! Imaginem que NÃO HÁ disponibilidade do Velox em Igarassu, Região Metropolitana de Recife! Como seriam suportados 176.000 novos potenciais usuários?

Então, ficamos assim. Ensino de má qualidade, todos com um tamagotchi (quem lembra?), felizes da vida, a oposição não se pronuncia. E o Governo do Estado ainda gastou R$ 557,53 por tablet, num total de R$ 98.124.000,00. Imagina tanto dinheiro investido em qualificação real do professor e na estrutura das escolas? Aliás, sem 3G, há muitos tablets mais baratos.

O resultado é que, mesmo sem tamagotchi, o ensino privado alcançou praticamente o dobro nas notas no IDEB!

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